O NORDESTE DO BRASIL ATRAVÉS DE UMA JANELA



Mulher, mãe, amante... São só alguns personagens interpretados pela cantora Amelinha nesse album que nos remete a uma curiosa viagem pelo sertão nordestino

Escutar "Janelas do Brasil" (2011, Jóia Moderna) da cantora cearense Amelinha, é como uma viagem pelas paisagens do nordeste brasileiro. É como caminhar pelo solo árido do sertão ao mesmo tempo em que se alegra pela caminhada e o vislumbrar de novas possibilidades. E que também sofre com as várias nuances de um amor que dói. Talvez seja esse o sentimento da cantora sobre o nordeste em que ela tanto se inspira: amor; um amor tão forte que chega a doer.

Dino Barioni colabora neste contar com o toque incrível de sua viola acompanhando a voz docemente dura de Amelinha. Digo docemente dura por ela conseguir ser firme em sua interpretação, como uma verdadeira contadora de histórias típica dessa região do Brasil, mesmo trazendo uma voz doce de quem ama feito mãe. Dino também é diretor e arranjador desse album marcante e de beleza raríssima.

Em "Janelas do Brasil", Amelinha parece contar a história de um nordestino que busca o encontro com sua felicidade. E para ajudar Amelinha a contar essa história tão especial - e que nos faz segui-la até o fim - a cantora contou com canções de vários nomes da música de diferentes partes do país, como por exmplo Marcelo Jeneci, Belchior, Zeca Baleiro, Fagner, Almir Sater, Alceu Valença (Quando Fugias de Mim), Geraldo Espínola, Maria Medalha e o grande mestre da música brasileira, Vinícius de Moraes. Mesmo com tantas "origens" a história é contada com maestria.

Essa trajetória começa com um tom de amanhecer em "Galos, Noites e Quintais" (Belchior), quando nosso personagem se mostra totalmente a par de sua condição, porém, pronto para começar sua revolução pessoal. Ele caminha e sofre com a ajuda de Zeca Baleiro (O Silêncio) e de Fagner e Abel Silva (Asa Partida). A mudança de olhar de nosso personagem acontece com a interpretação majestosa de Amelinha para "Felicidade" de Jeneci. Nesse momento dá pra levantar e dançar mesmo sozinho.


"Terral" de Ednard, sem dúvida é uma das melhores, a intérprete emociona. "Quando Fugias de Mim" quebra um pouco o clima duro do sertão e põe para dançar os ouvintes "do contador". "Algum Lugar" nos traz de volta ao caminhar pelo chão rachado do sertão em busca do mar. Ou seria de um seco homem em busca do amar? Dino, em seu dedilhar rápido abre "É Necessário", que apesar de aparentemente alegre, nos toca pela melancolia de um possível amor que, sensualmente se materializa aos poucos.

Não podemos deixar de destacar também "Ponta do Seixas" que parece contar uma nova fase das histórias do nordeste, quando parece que a realidade de dificuldade parece iniciar uma transformação. A voz de Amelinha muda, a música traz um balanço a mais, pouco visto nas demais canções. Lembra bem a agradável chegada à beira de um rio ou de uma praia.

A voz sofrida volta em "Olhos Profundos", porém num momento mais maduro da trajetória e, seguida por "Pra Seguir um Violeiro", que fecha o album como se fosse a deixa para contar uma nova fase dessa história.